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Para avaliar espécies de plantas oleaginosas alternativas, perenes e nativas da Região Nordeste, e ainda que tenham com potencial para produção de biodiesel, pesquisadores do Centro de Tecnologias do Nordeste (Cetene) introduziram o primeiro plantio experimental comparativo do Brasil. No País, a matéria-prima mais usada para a produção de óleo vegetal atualmente é a soja, já presente em cerca de 80% dos atuais seis milhões de toneladas do material produzido por ano. Diante desse cenário, o centro tem trabalhado em soluções alternativas futuras no plantio experimental, localizado em um terreno de um hectare na Usina de Biodiesel de Caetés, a 252 km do Recife.

“No Nordeste, não existe cultura de oleaginosas, além do algodão e do dendê. Por isso, nos preocupamos com o cultivo de novas espécies”, explica o coordenador do projeto, Wolfgang Harand. O fato de a cultura da soja ter um mercado estabelecido e diversificado, abrangendo áreas como a de agroindústria de alimentos e indústria química, serviu de alerta para os pesquisadores, pois a disponibilização de matéria-prima é a principal dificuldade para atender à demanda do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). O programa é do Governo Federal e objetiva a implementação, de forma sustentável, da produção e do uso do biodiesel, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional.

De acordo com Harand, o conjunto de informações com resultados dos experimentos devem ficar prontos em, no mínimo, quatro anos. “Algumas espécies começam a produzir a partir de três anos. Estamos trabalhando com dez espécies no momento, e queremos chegar a 15 ainda este ano”, explica. Entre as espécies mais conhecidas em teste estão as ouricuri e macaúba. Dentre as nunca cultivadas, licuri e mumguba.

O estudo é de grande importância por ser um dos primeiros esforços para trabalhar com espécies perenes e nativas na região, ainda segundo o coordenador. “Algodão não é nativo nem perene, nem a soja, nem o girassol. Espécies perenes têm potencial de produção de óleo muito maior por hectare”, ressalta. De acordo com ele, o retorno demora, mas quando chega, permanece por muito tempo. Além disso, o coordenador ressalta que o risco do cultivo das espécies perenes é menor, visto que não precisa ser feito todos os anos. “Em período de seca não teríamos impacto tão forte, como acontece nos plantios com espécie de ciclo curto”, acrescenta.

“Acredito que o Nordeste tem potencial para aumentar a produção de espécies que produzem até 10 vezes mais por hectare que a soja”, aposta. Na visão de Harand, a área que hoje em dia é usada como pastagem no Nordeste poderia ter coprodução de animais e plantas oleaginosas. De acordo com o coordenador, o resultado final, fruto de acompanhamento químico e agronômico, deve ser divulgado para agricultores rurais, informando como produzir, expectativa de produtividade, como tratar as espécies, como processar o óleo para produzir biodiesel dentro das especificações.

Manuela Reis

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